ENGENHEIRO NO JAPÃO
- Lucia Bigo
- 29 de set. de 2022
- 5 min de leitura
Tenho a grata satisfação de trazer para vocês o Engº. Werner Kínssey nos conta um pouco de sua atuação no Japão.
Mais uma vez, agradeço muito a ele pela gentileza e tempo para disponibilizar as informações. Certamente serão muito úteis.
Excelente leitura e muito sucesso para ele.
1) O que o levou a sair do Brasil?
Eng.º. Werner - Em primeiro lugar foram questões pessoais em relação a família da minha esposa que está praticamente toda no Japão, aliada a este fato, surgiu a oportunidade de trabalhar na minha área em uma multinacional e para crescimento profissional é mais que um passo, e sim um pulo ou atalho em minha caminhada.
2) Demorou quanto tempo desde a ideia de trabalhar no exterior até a concretização?
Eng.º. Werner - Cerca de 3 anos de preparação e estudos em outros locais onde eu poderia iniciar minha trajetória profissional internacional, o início dela foi em uma outra Multinacional (INPASA AGROINDUSTRIAL), nela eu tive a oportunidade de iniciar o diálogo aqui na América Latina mesmo com outros engenheiros e profissionais que trabalham fora do Brasil.
3) Quais países você tinha em vista?
Eng.º. Werner - Canadá, Chile e Portugal.
4) O que achou dos processos seletivos? Foram rápidos? Quais são os diferenciais para com os do Brasil?
Eng.º. Werner - Sobre o processo seletivo, foi muito dinâmico, rápido e preciso, perguntas cirúrgicas e pontuais sobre a função onde eu iria exercer e no mesmo dia já me falaram que eu passei para a próxima etapa, pois estava no perfil procurado pela empresa. Em questão de 1 semana depois me falaram que eu fui classificado e fizeram a proposta de emprego.
Foi bem parecido com a INPASA AGROINDUSTRIAL, onde eu fiz a entrevista na quinta e no sábado recebi a proposta de emprego. Muito diferente do Brasil onde os processos seletivos te enchem de perguntas desnecessárias, não aprofundam sobre o seu conhecimento que é o mais importante para que possa desenvolver sua função corretamente durante o seu trabalho e demoram meses para passar uma devolutiva para os candidatos.
Aqui está uma crítica pesada minha a respeito dos processos seletivos no Brasil.
5) Está atuando na sua área de formação/especialização? Pode fornecer alguns detalhes?
Eng.º. Werner - Estou atuando na construção de mais um prédio para a Indústria MURATA totalmente focada para a produção de condutores das placas de comando para os carros. Sim, estou colocando em prática também minha especialização em engenharia de estruturas. Aqui trabalho muito com peças pré-moldadas e lajes protendidas.
A questão de construção segue um padrão já conhecido por muitos mesmo, entretanto a questão da organização, limpeza e planejamento da obra são levadas MUITO a sério, são praticamente os pilares onde todos os dias tenho que comentar sobre isso nas reuniões matinais.
Muito presente e ativo o "5S" e eu, como já é de costume meu, sou muito aberto e acessível a todos os colaboradores para poderem falar comigo, desabafar, relatar algum problema, até mesmo fora do ambiente de trabalho, pois acho que assim consigo ter e sentir a equipe e saber as limitações dela em relação a produtividade.
6) Sentiu diferenças técnicas em relação ao trabalho do engenheiro no Brasil e no país que você está? Precisou de fazer cursos ou alguma especialização?
Eng.º. Werner - Não tive dificuldades, pois eu já fui praticamente formado em engenharia de produção e me formei em engenheiro civil e depois com a especialização eu sempre foquei meus estudos para fora do Brasil, saber como é feito e as diferenças técnicas do exterior para o Brasil.
E sim, tive que fazer algumas reciclagens em relação ao programa "zero resíduos, produtividade e segurança" para poder me alinhar com as necessidades reais do ambiente que estou inserido.
7) Algum impacto atípico ao iniciar suas atividades? Como foi a adaptação com a língua, horários, clima, refeições, transporte?
Eng.º. Werner - A língua pra mim está sendo a principal barreira, já que eu não falo nada de japonês, minha comunicação é apenas no Inglês e português com alguns colaboradores que falam um pouco do japonês e me ajudam de mais quando a comunicação no inglês fica dificultosa.
Questão de horários são horários bem extensos, sempre existem horas extras para podermos planejar os próximos passos e levantar o que já foi feito. Sobre o clima, como cheguei no verão, está bem quente aqui e liberamos pequenos intervalos de 10min cada, durante a jornada de trabalho para que os funcionários descansem mais e saiam do sol que é MUITO quente aqui.
Em relação a alimentação, eu estou me sentindo muito bem pois eu já gostava de comidas agridoces e minha esposa já tinha esse costume da comida daqui, até porque ela já morou quando mais nova aqui no Japão, foi bem tranquila minha adaptação. E vai um desabafo meu agora... A comida do Brasil é muito melhor viu kkk até os sushi dão de 10 a zero para os daqui do Japão hahaha.
E sobre transporte, a empresa disponibiliza o transporte para todos os funcionários que moram mais de 2km da fábrica.
8) Considera ser vantajoso em termos salariais e benefícios?
Eng.º. Werner - Muito vantajoso, hoje eu vou receber o dobro, quase o triplo do que eu ganhava no Brasil e sobre os benefícios são bem padronizados para todos, sem ter aquela diferença só pela questão de cargos e salários, fato que no Brasil quanto maior o seu cargo/ salário mais benefícios se tem.
9) O fluxo de Engenheiros para o Japão não é comum. Acredita que é mais fácil para somente engenheiros mais experientes ou recém-formados teriam chances também?
Eng.º. Werner - Sim, o fluxo é muito pequeno principalmente pela barreira linguística e pelos pré-requisitos que eles desejam, como já havia comentado, na entrevista mesmo eles batem todos os pontos solicitados na descrição da vaga para saber se você tem as condições mínimas de exercer a função.
Acredito que aqui eu sou uma peça fora do padrão pois eles exigem muito conhecimento mesmo, lógico que eu cumpri todos os pré-requisitos, apenas um que fiquei de fora que seria ter experiência mínima de 10 anos, mas, mesmo assim, fui claro que não tinha essa experiência, mas me sentia totalmente apito para a função, comentei isto novamente na entrevista e mesmo assim eles falaram que o meu perfil e minha vontade de sempre querer aprender mais e desbravar o desconhecido que mais chamou atenção neles.
Ou seja, eles queriam alguém com muita experiência e terminaram esbarrando em mim e optaram por me dar esta oportunidade pela vontade, objetividade e sinceridade que eu passei, além é claro de cumprir quase todos os pré-requisitos.
10) Poderia dar algum conselho profissional para quem procura trabalho no Japão?
Eng.º. Werner - Primeiro lugar, estudar a língua japonesa com muito tempo antes, já que aqui é como se estivesse aprendendo do zero mesmo o alfabeto, muito diferente do "padrão internacional" que segue o ABCDEFG....
Depois de dominar a língua tanto japonesa como o inglês para, pelo menos, entender e conseguir se comunicar, mesmo que com dificuldade, mas conseguindo, estudar as técnicas mais utilizadas aqui no Japão, como é o caso dos pré-moldados e em casos mais específicos como funcionam as "estruturas contra catástrofes ambientais".
Lógico que eu estou comentando sobre o mais clássico dos casos que é a construção de prédios, porém se o candidato tem alguma especialização ou vontade de trabalhar em outro setor, como é o ramo de rodovias, o critério é muito mais rigoroso já que aqui a questão da pavimentação e a questão sanitária é uma referência acredito que até em nível mundial, ou seja, tem que estar bem preparado para poder assumir uma responsabilidade de "tocar uma obra" deste segmento.
Mas se a vaga for para algum nível de Trainne, demonstrar que tem algum conhecimento na área e as técnicas utilizadas aqui no Japão é de suma importância.
E o principal, demonstrar adaptabilidade ao novo ambiente que está inserido, os costumes são muitos diferentes e eles contam muito para filtrar candidatos que já tenham conhecimentos sobre seus costumes japoneses, como é o caso da honestidade e da educação muito presente e viva no dia a dia.
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Próximos países confirmados: Portugal, Itália, Angola, Canadá e Austrália.
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🌹 Lucia Bigo | Mentoria de Carreiras | Currículos | Linkedin
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